os dedos tremiam-lhe, verdes. estava assim desde de manhã cedo, muito cedo. que raio de dia, pensava ele enquanto dava voltas na cama para fazer com que a manhã passasse mais depressa. parece que não chove, lá fora, apesar das previsões. vai ser mais um dia de calor, mesmo. ele tenta recuperar a agenda de hoje, mentalmente. nada feito. os dedos, verdes, tremiam-lhe.
os dedos tremiam-lhe, como a cabeça que doía. levantou-se, para fazer tudo o que não tinha que fazer. ligou o computador, pôs roupa a lavar, ligou a televisão. a agenda, a agenda que se lixe. não se sentia capaz de fazer fosse que actividade fosse. nada de produtivo, pelo menos. andou às voltas pela casa, como tinha andado pela cama. os dedos, a cabeça, a tremer, a tremer de verde.
os dedos tremiam-lhe, como fazer o almoço? começou a correr, talvez fosse como os gagos, que falam bem ao cantar, talvez conseguisse fazer alguma coisa se fosse a correr. ligou a música, a altos berros. já não eram só os dedos, a cabeça. as pernas, os braços, o corpo todo. por dentro e por fora, tudo. já só pensava porque é que na vida não se pode carregar num botão e fazer tudo andar mais depressa, até que passe a tremideira. a verde.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, maio 09, 2005
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1 comentário:
Belíssimo texto, impecável.
Um pouco aterrador confesso...criou espectativas até o final.
¡Besos,besitos y besotes!
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