estava ali deitado na cama a pensar no que escrever. é este o tipo de coisas que um gajo como eu pensa, quando acorda ao domingo. aos domingos acorda-se devagar, com um saborzinho amargo da cerveja de ontem à noite na boca. fica-se na cama, sozinho, a tentar ouvir os barulhos da rua. quase não se ouve nada. há um carro que chega ao pátio do prédio. há um jogo qualquer no pavilhão, logo ali ao lado.
estava ali deitado na cama, e depois comecei a pensar que tinha roupa para pôr a lavar, tinha umas camisas para pendurar no roupeiro. e fiquei na dúvida, vou escrever ou vou tratar da roupa. isso deu-me mais uns minutos de cama, a balançar-me de um lado para o outro, a bexiga a pedir-me para me levantar, a cabeça a pedir para ficar, o corpo sem dizer nada, só a balançar-se, pronto.
estava ali deitado na cama, sozinho, a pensar no que é que podia fazer hoje, depois de arrumar a roupa, depois de escrever um bocado, talvez comer qualquer coisa, talvez ver a fórmula um, talvez sair de casa, tomar um café, dar uma volta de carro, comprar o jornal, olhar para o mar, ouvir rádio, essas coisas, quem sabe, mandar-te uma mensagem, ficar depois quieto à espera de uma resposta, de um sinal qualquer, ou nada. estava ali deitado na cama, a pensar no que fazer.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, maio 22, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
▼
2005
(461)
-
▼
maio
(68)
- filme francês
- casalinho
- eu não sei como é
- Um editorial recusado que se salvou do lixo
- férias de mim
- trata-me por senhor
- de repente, eu
- os poemas estão escritos em francês
- talvez uma crónica de domingo
- oriente-se a oriente
- para saberes da minha verdade
- visionária
- a zanga do poeta que tem razão
- encontro
- voz
- triste américa
- surdez
- cama
- copos
- guilhotina
- gesso
- remistura
- pensamento da noite
- 00:00
- frases
- lisboa
- previsão do tempo
- anotações sobre o real dos meus olhos
- rinite alérgica
- ofício de escrita
- no começo era o verbo
- fala comigo
- a pior parte de um coração partido
- encontro virtual
- nava-lha
- teoria da repetição
- vou deixar de fazer perguntas retóricas
- a catorze de maio
- Carta a Inês de Castro
- a treze de maio
- [ a casa das mil portas ]
- quantas vezes
- marcas
- nórdico deprimido
- a aprender como se faz
- dedos
- asas cortadas voam melhor
- o espaço em volta
- a vida devia ser como no championship manager
- miopia
- ir dormir contente
- introdução a "auto-perfil"
- amor
- problemas de segurança
- era depois da morte
- balcão
- calor
- [o título que tu quiseres]
- da verdade e da mentira em L.F.C.
- exercício sobre a solidão
- simulação
- teoria da literatura - III
- de ganga...
- e um dia pensei
- wine
- escreve
- será que alguém me ouve?
- mesmo assim
-
▼
maio
(68)
1 comentário:
E eu, que já sai de minha cama, mas morrendo de vontade de voltar, mesmo sabendo que tenho tudo isso à minha espera?
Às vezes dá vontade de folgar um pocuo as rédeas, de ficar na janela olhando as coisas passarem, só um pouquinho... De não ter de escolher nada pelo menos por algumas horas, ao contrário, ter alguém que escolha para nós...
Mas aí a realidade nos chacoalha, a gente acorda desse sonho acordado, e percebe que não arrumou a cama, não preparou o almoço, e que a gente já perdeu metade do dia, que não volta mais.
Enviar um comentário