escrevo enquanto posso. um dia a vontade vai-me passar. vou acordar despenteado e com a barba por fazer e vou começar a procurar um outro emprego. final dos sonhos, direi eu de peito feito, ao mesmo tempo que avançarei de novo, triunfante, para uma entrevista de emprego numa qualquer transportadora. sim, fazer entregas, andar por aí o dia inteiro de carro, para um lado e para o outro. com o rádio ligado e sem nada em que pensar.
escrevo enquanto posso. enquanto ainda me vêm palavras à cabeça de cada vez que dou um passo, de cada vez que inspiro. um dia, as palavras vão-me desaparecer entre os dedos, depois de um longo bocejo. vou abrir a boca, incapaz, e ver as palavras a fugirem de dentro de mim. há coisas que se têm que aceitar tal como elas são, dir-me-ia o terapeuta. eu finjo que percebo tudo muito bem e compro três pares de calças de ganga elástica. são as melhores para conduzir.
escrevo enquanto posso. provavelmente um dia deixarei de ter tempo. ou talvez acabe por encontrar uma mulher que seja mais forte do que eu e me faça dedicar a outras coisas mais importantes. vou deixar uns livros escritos por aí, os quais olharei sem grande orgulho. na verdade, não retiro o mínimo prazer de me vangloriar de coisas do passado. são filmes que terminaram. e assim terminará o filme da escrita. num dia desses, um dia qualquer.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, maio 17, 2005
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1 comentário:
no fim o adjectivo...
peço-te: escreve sempre*
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