e logo a mim que sempre me tive tão seguro de tudo o que faço, que faço sempre tudo bem. logo a mim, logo a mim, que me apresento dentro dos padrões, que me movo sem dar muito nas vistas. sim, isso, logo a mim, aqui perdido dentro destas paredes de betão. podia alguém chegar e dizer: é poeta, é mesmo assim. mas não, não, logo a mim.
ainda dentro do carro, a andar às voltas e às voltas da mesma praça, sem saber como o parar. depois subir e descer escadas, em superfícies vidradas, em vozes de altifalante que não se sabe o que nos quer dizer. hoje tudo se decidiu avariar. e logo a mim, isto me foi acontecer. andar de um lado para o outro a querer procurar qualquer coisa que não se sabe como encontrar.
e logo a mim, e logo hoje, e logo agora, andar de um lado para o outro com o talão do estacionamento preso na boca, um monte de betão a fingir paredes de todos os lados, portas que não se sabe para onde dão e portas que não dão para lado nenhum. e logo a mim, logo a mim, que sempre ando tão seguro, ficar assim perdido no parque de estacionamento. a sorte é que o meu carro é alto.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, maio 29, 2005
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