um poema é qualquer coisa que se começa com um gesto. espera-se que o vento nos ajude, que empurre os cabelos de uma menina para a frente dos seus olhos. tentamos, distraídos, tirar-lhe os cabelos para trás da orelha, de novo. com esse gesto se toca uma pele, uma pele que se deseja tocar. assim, devagar, subtilmente. com um gesto se começa qualquer coisa como um poema.
depois, é preciso encontrar o tamanho concreto dos versos. quase que ia dizendo o tamanho certo, mas fico incerto quanto às certezas da poesia. um aglomerado de gente, junto a uma banca de livros, e a nossa mão enconsta-se às costas do casaco da menina. talvez preferisse usar o verbo em brasileiro. se encosta. demora mais tempo, denota o gesto. e o tamanho do verso faz-se por si mesmo, sem regras.
um poema, nunca acabando, tem que deixar a palavra certa para o fim. aproveitar tudo ao mesmo tempo, o vento, a solidão de dois corpos, o carinho todo que se sente. pode ser um sorriso, sim, é certamente um sorriso, que logo se desencadeia num abraço. um abraço, um abraço, que boa forma de acabar um poema. e depois ficar a pensar em livros que falam de fuga e de amor, ver o poema a correr, pela gare, a entrar no comboio.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, maio 29, 2005
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1 comentário:
Não percebo...
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