passar as manhãs de fim-de-semana a tocar os discos que se levou uma semana inteira a escolher. estar sentado numa sala escura, como num aquário sem luz, tipo peixinho que só anda a roda, a roda, numa cadeira com rodinhas, uns auscultadores presos na cabeça, a cabeça presa a um leitor de cd's, um leitor de cd's preso a máquinas grandes e complicadas. passar as manhãs de fim-de-semana a tocar os discos que se levou uma semana inteira a escolher.
passar aqui as manhãs de fim-de-semana. um homem escuro que passa aqui as noites abre-me a porta bem cedo. eu pouso as chaves em cima da mesa e olho as máquinas, as máquinas grandes. uma parede cheia de caixas de cd's e um relógio em cima da parede. um aquário a dar horas. depois o homem escuro faz-me um sinal, do lado de fora do aquário, e acende-se uma luz vermelha por cima da porta. no ar.
passar as manhãs de fim-de-semana, aqui, arrumado entre as cassetes com publicidades a cafés e lojas de cortinados. o homem escuro sai, leva um saco onde costuma ter sempre pão e vinho. eu fico, a tocar os discos que levei a semana inteira a escolher. quando comecei nisto até fazia listas em papéis de café. agora, trago os discos, vou à parede buscar outros, ponho-os a tocar. passar as manhãs de fim-de-semana a dizer, arrumado entre as músicas, a sua rádio local. no ar.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, maio 01, 2005
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3 comentários:
ás vezes quase te oiço; como quem ouve listas de discos escolhidos no decorrer do tempo.
alguém que te descobriu há bastante tempo e que te tem lido sempre em silêncio. e que acha coisas como estas (http://esferovite.blogspot.com/2004/09/o-tipo-de-poesia-que-eu-ando-fazer-por.html)preciosas.
Eu te ouço. E não sai no sábado, como tu.
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