peço baixinho ao "banduleta" para não me convidar para ir a um bar qualquer nas Caldas, como se fosse possível a um homem pedir, seja o que for, a outro homem baixinho, peço-lhe baixinho e ele talvez não oiça, porque a música está muito alta e há uma gritaria à nossa volta, ela a falar do bar das Caldas, a melhor noite de sexta-feira do Oeste, e eu pedir-lhe, não digas isso, é ladies night, insiste ele, e eu bebo mais uma cerveja a pensar se ele não estará a querer dizer que eu podia entrar à borla.
peço baixinho ao "banduleta" que ele me passe um cinzeiro e um isqueiro, e ele fala de jogadores de futebol antigos, que eram altos e fortes e marcavam muitos golos, que chutavam e cabeceavam, fosse de onde fosse, eu peço baixinho, como se ele ouvisse, um cinzeiro, um isqueiro, e ele fala de festas de porco no espeto e de um vinho tinto muito bom, pede mais tremoços, mais amendois, eu baixinho e ele a sorrir para as raparigas que entram, e eu a beber mais uma cerveja a pensar que a noite nem está a correr assim tão mal.
peço baixinho ao "banduleta" que me conte aquelas histórias dos cabeleireiros onde já só se vai porque as caras são conhecidas, porque se fala de alguma coisa enquanto se corta o cabelo, e ele olha para os rabos das miúdas e come tremoços, eu peço baixinho, como se fosse possível sequer ser baixinho sentado neste balcão, peço-lhe um conselho, um abraço, e ele sorri como sorriem as mães, compreende e come tremoços, e fala-me do bar das Caldas, eu peço-lhe , não, e depois bebo mais uma cerveja porque me faz falta ir para casa.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, maio 07, 2005
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1 comentário:
típico ;)
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