cultivo em silêncio as marcas do meu corpo. fecho a luz e deixo que os dedos se passeiem pelos meus braços cheios de pelos, pelas minhas ancas demasiado largas, demasiado fortes. cultivo no escuro este corpo, esta ausência de mim por tanto tempo, os dias contados em que não me reconhecia assim. deixo que os dedos caiam sobre mim, me pressionem, me sintam. cultivo estas marcas em silêncio, sem luz.
cultivo dia após dia as marcas que tenho dentro de mim. fico sentado no sofá, com todos os aparelhos desligados e respiro cada vez mais devagar. tudo acontece tão devagar que já só me restam as marcas à consciência. os dias contados da infância, tantas vezes repetidos, os dias contados da adolescência, tantas vezes repetidos, os dias que se sucedem uns aos outros, em crise, tantas vezes repetidas.
cultivo-me assim. sem demoras e sem pressas. cultivo-me nos dias em que chove muito pela tarde, depois de um sol intenso ter furado entre as nuvens durante toda a manhã. respiro. as marcas, as de dentro, as de fora, sobressaem múltiplas, em desamparo. cultivo-me na repetição e na ausência dela. eu sou eu, mas também sou outras tantas pessoas. outros tantos eus em permanente ebulição. fecho a luz, deixo-me ficar a um canto. as mãos em mim. cultivo assim as marcas do meu corpo.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, maio 11, 2005
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2 comentários:
HOJE IREI DAR AO NOBRE GRADES, PERDÃO GUEDES, UM LIVRO QUE TU BEM CONHECES: LEVANTADOS DO CHAO, AH AH AH DE FACTO O INDIVÍDUO MERECIA UM GARRAFÃO DE GINJA...
..ou cultivam-te elas a ti?
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