continuo com uma enorme vontade de tirar férias de mim, de mim e de todas as coisas em que me meto. qualquer coisa como colocar uma banda gástrica em volta do cérebro. não consigo viver nada por completo. os tempos bons, gasto-os a pensar nos maus. os tempos maus, ocupo-os a pensar nas formas em que como tudo se transformará numa sábado à tarde a olhar para o mar. mando uma mensagem numa garrafa, não me digas tudo mas não te cales assim. sou sensível como uma folha de uma flor. se não me tratam bem, transformo-me em pedra.
tirar férias de mim, tirar férias de mim, tirar férias de mim. há alguns anos atrás disse isto a dois colegas meus. riram-se para não chorar. eles sabiam, eles sabem muito bem aquilo que eu queria dizer. depois acho que voltei a repetir isto a alguém que não percebeu nada do que eu disse e pensou que eu me ia matar. talvez eu seja muito bonito, muito agradável de se ver por fora, mas por dentro estou todo podre, como a moby dick do joão garcia miguel. fico-me assim a pensar em peças de teatro e em pó de carpintaria. ambas as coisas me fazem espirrar.
férias de mim. telefonar para uma agência de viagens e pedir para falar com o psicólogo de serviço. há alguém que vive dentro de filmes e alguém que vive a favor das ilusões que se vai criando, a cada dia que passa. em ambos os casos, as costas doem. as costas, os ossos, os ossos todinhos. penso em acidentes de automóvel, em ossos que se vão partindo aos pedacinhos, mais depressa que uma chuvada tropical. a pessoa vem, a pessoa vai e tudo fica normal como dantes. fica tudo normal como dantes. fica tudo normal como dantes. há certas frases que eu não acreditava possíveis.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, maio 30, 2005
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