o precipício inicia-se no recôndito das tuas mãos, as tuas mãos pequenas que se fecham sobre o colo, o teu ínfimo colo, doce como um pormenor numa noite de verão. o precipício, onde eu me concentro enquanto vou repetindo baixinho um poema do nava, onde eu conto as sílabas dos versos e me desoriento. porque aqui é de noite, dizes-me tu, e não há outro lugar como a nossa casa.
desapertas os teus dedos e passeias as unhas sobre os meus lábios murmurantes, como se me quisesses impôr o silêncio. balbucio palavras já fora dos lugares, versos desfeitos pela mutilação. cerro os olhos e penso em contextos como terrorismo. alguém do meu prédio que viveu no estrangeiro conhecia um homem que acabou por se imolar em frente de uma embaixada. tu não queres saber.
deixo a cair a cabeça, não são já sequer palavras, nem mutilações. letras, sons. ainda que eu tente pensar, um som, um som que me sai da boca, é uma parte de quê? os teus dedos passeiam-se, passeiam-se, a minha cara marcada, os meus olhos fechados. sons, sons. o precipício inicia-se no recôndito das tuas mãos, já só me resta uma sombra do que pensei no princípio dos tempos.
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terça-feira, maio 03, 2005
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3 comentários:
"nas tuas mãos começa o precipício."
luís miguel nava
é simples, é uma das minhas citações preferidas.
..resta-te muito mais do que isso..
gostei especialmente destas palavras..*
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