brutalmente assassinado. brutalmente assassinado no seu apartamento. apartamento. brutalmente assassinado. brutal. brutalmente.
leio isto sentado num sofá pouco confortável, numa sala quente, cheia de desconhecidos. entrei sem olhar, sentei-me. agora faço as contas pelos dedos. havia um rapaz quase que deitado numa superficie de madeira. saiu quando eu entrei. há uma senhora com cerca de quarenta anos à minha frente. lê paulo coelho e, se pudesse, iria para a cama comigo. ao seu lado há uma rapariga, com vinte e tal anos, que lê sem olhar para nada.
brutalmente assassinado, no seu apartamento.
depois, outra superfície de madeira, um tipo baixinho, moreno. do lado de lá, um velho que respira como se ressonasse. não consigo perceber o que lê cada um deles. ao fundo, do lado de lá, ainda, um negro, que entra e sai à procura de dicionários. talvez escreva poemas, talvez traduza alguma coisa. ponho a hipíotese da maior parte das pessoas não terem onde ficar durante o dia e virem para aqui, ler. eu, faria, faço a mesma coisa. podia estar na praia, penso.
no seu apartamente em Bruxelas. brutalmente.
há mais uns morenos, estrangeiros. entram e saem. a senhora de quarenta anos sai. entra uma mulher de trintas, com um anel grande, a ler um livro sobre turismo em espanha. eu podia estar na praia. mas aqui também está muito calor. está mesmo muito calor. se estivesse em casa, não seria capaz de ler, penso. estamos na cidade, na cidade grande demais. e eu leio o poeta que fala do dia em que voltou a Viseu.
brutalmente.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, maio 15, 2005
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7 comentários:
estavas na fnac? ;) brutalmente bom.. brutalmente genial.. gostei especialment da parte da senhora q ia pa cama ctg :p agora falando mais a sério, às vezes também eu saio de casa só porque sim, só para não ficar a pensar, assim pelo menos vejo gente, leio, rio-me dos outros, de mim.. hoje não fiz nada disso.. keep going*
Caio na repetição do teu próprio advérbio mas este texto foi-me brutalmente sincero e gostei mesmo.
Mesmo. Os trocadilhos, tudo. *
muito bom §
luis miguel.
Gosto do que escreves. Escreves brutalmente bem :) Beijo grande.
oi tenho uma curiosidade, qual é o poeta que voltou a Viseu? Gosto muito das tuas historias!!! Continua assim!!!
o poeta é o Luís Miguel Nava, que nasceu em Viseu e foi assassinado em Bruxelas.
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