tenho os dedos longos, longos como as manhãs depois do álcool que não me deixa dormir. porque eu bebo cerveja, porque eu bebo vinho, e fico acordado noites inteiras, fico acordado noites inteiras, como os artistas. tenho os dedos longos, longos como as manhãs pela cama sem saber por onde sair. se os estico, consigo tocar o tecto do quarto, consigo abrir as janelas, fechar as portas. chego a todo lado, tão longos os dedos, as manhãs.
tenho os dedos sujos, sujos como os lençóis da cama onde eu acordo ou nem sequer durmo, só deito. porque eu sujo os dedos no meu corpo, no meu querer, porque eu sujo os dedos pelas noites, retiro pedacinhos escuros do céu e das paredes, procuro restos de comida debaixo da cama. tenho os dedos sujos, sujos como os olhos que não se fecham e vêem tudo, tudo a acontecer ao mesmo tempo, sem timidez ou vergonha.
tenho os dedos inacabados, inacabados como as histórias de amor que imagino no tempo todo em que não durmo. eu não durmo porque bebo, pelas noites longas, como os artistas ou como os mendigos, com um cão a passear pela rua, na minha sombra, os dedos inacabados e segurando um canivete, com que corto os pedacinhos do céu e do tecto e das portas e de mim, sim, inacabados ou cortados, os meus dedos, que eu tenho.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, maio 10, 2005
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3 comentários:
eu não, mas agrada-me..*
Sinto exactamente o mesmo... Beijos :)
O meu comentário anterior era para o 'asas cortadas', nem sei como fui escrevê-lo aqui mas às vezes sou meia despistada :) Beijos :)
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