não, não eram todos os dias, uma correria escadas abaixo nos prédios vizinhos, um monte de alminhas em monte sobre o chão da sala a olhar muito fixamente para o écrã da televisão, a consola de jogos a fazer de arranjo floral e dois pequenos satélites agarrados aos comandos, uma gritaria surda dentro da sala, cabelos nas cabeças a dar a dar, chuta, marca, pimba, uma gritaraia naquela sala e a mãe que chega e fecha a porta.
do lado de fora, agora, tudo parece silêncio. fecharam os putos dentro da porta e só se ouve uma pequena brisa de grito, treme um pouco a porta se há um golo, um pontapé, mas tudo parece silêncio. tudo parece silêncio agora, tudo parece não existir. a mãe lava a loiça e lembra-se de há uns anos quando ainda nem o Henrique nem o Tomás, só uma doce espera pelos dias para que o marido chegasse, jantar pronto e mesa posta, tudo num brinco, tudo limpinho, só uma doce espera pelos dias e agora isto.
volta a abrir-se a porta, os rapazes cansados dos jogos, um quer sumo outro a casa-de-banho, a mãe acena com a cabeça durante três segundos, três segundos, o tempo que os rapazes demoram da sala à cozinha, a correr, um escorrega no tapete outro mete as mãos à parede, à parede onde depois quatro dedos ficam marcados por alguns dias, até que a mãe volta a acenar a cabeça com a descoberta, a porta voltou a abrir-se e tudo parece existir em demasia.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, novembro 19, 2005
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3 comentários:
Engraçado... embora as histórias sejam diferentes, o teu texto lembra-me o filme "As horas", Virginia Woolf, histórias com fins não muito felizes.
Num texto abaixo tens um erro. É rinite e não renite que se escreve.
Saudações! António
Olá Luís Filipe! Recebeste meu e-mail em resposta ao seu? Excelente o blog, como sempre. Abraço!
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