a minha manhã verde - musgo - carros a deslizar pneus pelo alcatrão molhado, pensos nas faces, cortes da barba, reuniões aprazadas em cima da hora, em cima do joelho. a minha manhã - cores - uma terna influência de uma paleta de infecções oculares, ver tudo mal e tudo bem, esfregar os olhos com as costas das mãos, tirar, pedaço a pedacinho, ramelas do meio das pestanas.
a minha manhã verde - escuro - janela fechada, luz apagada. toca o telefone e eu não atendo, batem à porta, chamam à janela. a minha manhã - chamadas privadas - do escritório, do trabalho que eu entendo, não atendo, não me rendo. o sono todo ainda em mim, os pés a escorregar pela calçada feita rio, ria, feitoria. encontro-me, enquanto acordo, a rimar. e não sei bem o que sonhei a noite passada.
a minha manhã verde - vinho - garrafas cheias de nada sobre a mesa. pensar em calendários, que dia é hoje, seis sete? amanhã, só amanhã, a sexta-feira, a noite inteira, pedir uma cerveja para acender mais um cigarro, mais um charro. tudo isto, não fosse outra coisa, seria uma maneira de passar o tempo, estar com os amigos, diria. mas ainda chove, a minha manhã, as minhas cores instáveis, os meus papéis molhados.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, novembro 03, 2005
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