os poetas escrevem poemas.
os cães constróiem filosofias em varandas sobre o mar.
os varredores de ruas varrem, meticulosamente, os passeios, os carteiros entregam correspondência.
os homens vestem-se como homens,
outros homens vestem-se como mulheres,
outros homens vestem-se como bem lhes apetece.
as avós olham-nos nos olhos e dizem que já somos uns homenzinhos.
as mulheres vestem-se como mulheres,
outras mulheres vestem-se como homens,
outras mulheres nem sequer se vestem.
as avós falam de nós no passado e choram lágrimas pequeninas.
os empregados de balcão tiram cafés curtos,
os bancários contam as notas,
os desempregados lêem, nos jornais, anúncios de emprego totalmente falsos.
as mãos pegam nos sacos de compras,
as compras são arrumadas nos lugares devidos,
as casas são só casas quando há alguém para estar dentro delas.
a música toca em diversas ocasiões,
quando há festa ouvem-se foguetes,
os gatos espreguiçam-se nos telhados
e os carros passam pela estrada sem apitar porque já é de noite.
os escritores compram canetas,
os informáticos olham para écrãs vazios de significados,
os adolescentes vêm fotografias de mulheres nuas
e os solitários masturbam-se ao deitar e ao acordar.
as senhoras casadas pegam em livros com delicadeza,
os pobres de espírito vêm as fotografias,
os ignorantes não percebem os sinais,
os tristes vêm sempre tudo do lado de lá das lágrimas,
os velhos são velhos e têm histórias para contar.
os doutores dão-nos conselhos,
os pais dão-nos conselhos,
as mães dão-nos conselhos,
os rockers dizem-nos para não seguir nenhum.
os cantores populares gostam da mamã,
as meninas gostam do papá,
os meninos jogam à bola mesmo nas estradas com mais trânsito
e os dreads passam de skate aos gritos.
as malandras piscam os olhos,
os malandros roubam carteiras.
os solitários saem de casa envergonhados, um pouco antes da hora do almoço,
as solitárias passam as tardes na missa.
os poetas escrevem poemas,
os poetas escrevem poemas.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sexta-feira, julho 22, 2005
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1 comentário:
Os poetas também aspiram a casa.
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