Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

terça-feira, julho 19, 2005

não me digas a palavra lua

agora vou deixar as minhas mãos baterem asas. ligar a rádio e encontrar uma voz que me assegure. agora vou limpar a testa com os meus dedos sujos, olhar-te nos olhos, pegar-te na mão, dizer-te, sim, eu quero que me leves até ao fim. agora vou continuar a ter tinta de canetas nas mãos, os sonhos sempre cheios de coisas por fazer. vou abrir a porta, beber da garrafa. agora vou aprender a verbalizar os espíritos que vivem em mim.

e então tu podes me telefonar a sorrir. dizer-me uma série de coisas que não vão mudar o mundo, nem o clima da estação. e então tu podes vestir aquele vestido novo que compraste num final de tarde outonal. podes encontrar-me numa esquina, ler o jornal, beber um café. e então podes pedir adoçante, pedir um copo de água, pedir que te levem a casa no final do cinema. e então tu podes também começar a mudar o mundo.

para mais tarde vou deixar os rascunhos de uma centena de poemas que encontrei nos cadernos. uma mesa da escola que vi no meio da rua. para mais tarde vou deixar coisas insignificantes como o azul do céu e o verde dos relvados pelo jardim, o sabor dos gelados quando se derretem. para mais tarde vou deixar os encontros marcados pelo jornal e a dívida externa dos países de terceiro mundo. eu só quero pensar que eu vou, tu vais, sorrir. para mais tarde o mundo mudado, nas nossas mãos.

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