se começarmos a falar objectivamente, não nos vai restar nada para dizer. o silêncio acaba sempre por se recentrar nas tardes de verão. houve um tempo em que nos sentávamos numa toalha de praia a olhar o mar e a ouvir os miúdos em nossa volta a falar das noites na discoteca. para nós, aquilo era um mundo estranho. acordávamos de manhã cedo e bebíamos chá, depois compravamos o jornal, tu trazias sempre um saco com livros, eu levava maçãs. a praia.
sempre, entre nós, um cheiro a protector solar em excesso na zona do nariz. eu calçava chinelos e usava t-shirts muito largas, tu muito pouco mais que o bikini. éramos felizes assim, por detrás dos nossos óculos escuros. de noite víamos filmes franceses em cassetes de videos gastas e comíamos ameixas que, dizia-se, eram colhidas no quintal do dono da mercearia. gostávamos destes pequenos gestos demarcados das aldeias da beira do mar. era só isso.
agora estamos mais crescidos e o tempo que nos resta para férias aproveitamo-lo sempre para fingir que temos mais um qualquer trabalho a fazer. há qualquer coisa em nós que nos impede de nos usufruirmos maritalmente. tu continuas agarrada aos teus desenhos de casas e medidas de engenharia, eu continuo a tentar medir o curso das estrelas por cima das nossas cabeças. estamos sempre calados, eu sei, mas também sei que é isso que nos mantém sossegados. se começarmos a falar objectivamente, não nos vai restar nada para dizer.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, julho 27, 2005
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