Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quarta-feira, setembro 28, 2005

todos os poemas são poemas de amor

talvez fosse engraçado conseguir dar um salto até aí, no próximo sábado. gosto das cidades grandes quando estão desertas, ia gostar de te encontrar numa rua qualquer, tu ias-me segurar pela mão e levar-me a esticar as pernas pelo rio. seria o que nós chamamos de oportunidade. depois anoiteceria e eu ia levar-te, debaixo do meu braço, até a uma estação de comboio próxima. e seguiríamos linhas diferentes.

faz-me falta a presença do comboio, um comboio activo e consequente, que sirva para se chegar a algum lado. faz-me falta uma rua larga e um jardim onde passear mesmo quando está frio. faz-me falta um casaco, um boné e um cachecol. fazem-me falta as folhas secas do outono e os dias em que ameaça nevar. faz-me falta um telefonema a meio da noite, sentir-me calmo quando me tocam à campaínha. faz-me falta uma vida normal. uma vida normal como a minha.

talvez fosse engraçado poder sacudir a humidade dos cabelos e aquecer as mãos perto de uma lareira. olhar, com todo o vagar do mundo, os livros que tens espalhados pela tua sala. pegar num e ler duas frases, em voz alta, fazer-te sorrir. talvez fosse engraçado isso, o teu sorriso. o meu, também, em reflexo. talvez nos pudessemos divertir a inventar um qualquer prato, na cozinha. acender as luzes, espreitar pela varanda. e ao ver o comboio passar sentirmo-nos alinhados, mão na mão.

1 comentário:

n. disse...

lá está...um amor moderno