agora ficamos a esfregar as palmas das mãos uma na outra até ser outra vez de manhã; depois, pegamos na roupa que usamos há já alguns dias e saímos pela porta da rua, de peito elevado, convencidos que o mundo nunca muda quando nós ficamos em casa a dormir. quanto a ti não sei, mas é desta forma pequena e isolada que eu vejo o mundo - durante muito tempo pensei em fazer as coisas de outra maneira, tentar ser boa pessoa, tentar ser alguém reconhecido, tentar atrair para mim os abraços e os beijos das raparigas - agora fecho-me em casa e deixo crescer a barba. o que tenho para te dizer é que a minha barba cresce devagar.
no outro dia, era de manhã, eu tomava uma chávena de café e olhava a varanda da minha vizinha, pensava no interesse que tem a literatura na vida das pessoas que estendem a roupa quando chove no terraço e pensei em sair de casa sem vestir o casaco, descer até à tabacaria mais próxima para comprar pastilhas e chocolates. não sei bem que dia da semana era, a senhora sorri-me sempre da mesma maneira e aconselha-me a ler os artigos do Vasco Pulido Valente. isto podia ser Londres, mas é só uma cidade pequena da província. queria chocolates e trouxe cigarros, sentei-me de novo na cozinha, o café ainda quente e a garganta que começa a doer.
porque eu passei o verão todo com um cachecol pendurado no quarto, acordei em todos os dias de calor com o cachecol em ponto de mira, e hoje, ao procurar umas calças pelo chão do quarto, pensei que tinha saudades do outono e destes dias de chuva. comecei a escrever pequenos apontamentos no meu caderno e ao final da manhã tinha uma novela, uma pequena novela, toda alinhavada em seis páginas pequenas e riscadas. era isto ou fazer a cama, pensei. tomei um duche rápido e com um pedaço de pão na boca saí a ver as pessoas à procura de almoço. andei pela rua a espreitar para dentro de restaurantes. havia muita gente a esfregar a palma das mãos uma na outra.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, setembro 26, 2005
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1 comentário:
«artigos do Vasco Pulido Valente.»
ehehhehehehehehehehehehehehehehehehehhe
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