tinhas as mãos pequenas guardadas dentro dos bolsos e fumavas, nervosamente, um cigarro que pediras emprestado ao tipo da mesa do lado. não se pedem cigarros emprestados, disse, com um ar estranhamente bem disposto, o tipo, enquanto tirava o maço do bolso da camisa. tu sorriste e pegaste no cigarro, como quem não ouve. mas tu ouves, tu ouves tudo, quase sempre.
tinhas as mãos pequenas guardadas dentro dos bolsos e olhavas, vagamente, para a porta da rua. esperavas alguém ou alguma coisa, era mais que certo. final da tarde e as cabeças vergadas ao peso destas nuvens que vão chegando. o teu casaco era preto, um preto misturado com tempo e alguma sujidade. chamemos-lhe uso, fica mais bonito. ou pelo menos, mais aceitável.
tinhas as mãos pequenas guardadas dentro dos bolsos, e isso porque tinhas aprendido nos filmes antigos como é que se fuma sem tocar no cigarro. isso ainda te vai fazer ficar com os dentes amarelos, avisou-te um dia o teu avô, mas tu não querias saber. fumo como nos filmes, colocavas tu nas habilitações literárias. agora esperavas, esperavas alguém ou algo. mas o café fechou.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, setembro 15, 2005
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