Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quarta-feira, setembro 28, 2005

noite

tenho os olhos cheios de vento e de aldeias perdidas no meio de pequenas serras. sinto o frio a entrar por dentro da camisa e vou fechando botões à medida que a noite vai avançando. estou sentado num banco de pedra fria e penso que o mundo há de ter uma saída. ainda assim, satisfaz-me, de certa forma, a ideia de que não estamos aqui seja para o que for.

tenho as mãos e os dedos e as unhas limpas. olho-os com uma certa admiração, seja por ser de noite, seja por eu gostar de mim. esta frase, mesmo quando me soa estranha, parece, ainda assim, uma frase possível de ser dita. gosto de mim, gosto de mim. a maior parte do tempo até tomo isto como verdadeiro. na outra parte, é só uma coisa que se diz, à distância.

tenho os pés aos saltinhos, sempre esta sensação de nervoso miudinho que não me larga os dedos dos pés. saltinhos, saltinhos, pé de costureira, mas sem máquina, sem costuras, sem roupa, sem nada. apetecia-me arranjar um cigarro sem fumo e deixar que o sal do mar se encostasse à minha pele e me fizesse como uma estátua. ainda assim, o não haver razão nenhuma para continuar aqui, também me serve, também não me faz mal.

Sem comentários: