vai e vem o que eu quero de ti, repito baixinho estas palavras até me convencer que não te toco com nada mais senão os meus olhos fechados pela luz do candeeiro que acabo de apagar. não tenho desejo nem razões para ir mais longe: gostava, enfim, de que te pudesses recordar de mim como algo bom. pequeno, mas bom. e sim, há também em mim uma certa ânsia de que o digas aos quatro ventos. é por isso que eu não convivo bem comigo.
vem e vai o que eu sinto por ti, nenhuns outros lábios me saberiam dizer tão bem como os teus, e logo tu que me magoas sempre que cerras os dentes e sais de casa a bater a porta com força. nada mais de mim em ti, nada mais senão uma ausência de sentido nos telefonemas que ainda te faço. procuro sempre uma razão, tantas vezes inválida, para te dizer um olá, um adeus. tu não voltarás nunca, e eu nunca estarei suficientemente certo daquilo que vou querer nesse regresso. enfim.
vai e vem, como os meus olhos à janela, a ver quem passa, a ver quem chega, aquilo que eu quero de ti. porque quero alguma coisa, sim, acho que será mais ou menos isso. lavo as mãos e olho a minha face no espelho, encosto a minha cabeça aos azulejos frios, procuro uma qualquer ressonância de ti em mim, uma vibração, pequena que seja, seja. depois não me venhas falar do tempo, das bicicletas ou da depressão. vai e vem, marés, maré.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, setembro 24, 2005
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