os homens bebem dos seus copos a inevitabilidade de ser meia-noite. têm as pernas cruzadas debaixo das mesas e olham, melancólicos, o écrã da televisão que não passa nada de interesse. os homens bebem dos seus copos e bocejam o ainda ser de noite, porque de noite tudo é parado e quieto, de dia é que se fazem os amigos, o trabalho e o salário.
os homens bebem dos seus copos o facto de já serem demasiado velhos para serem novos. um ou outro espreguiça dos braços o torpor do tempo que passou e quase que engole a seco a cerveja que tanto lhe arranha as entranhas. os homens bebem dos seus copos e são fortes, fortes como uma folha inquebrável. e nunca, nunca páram.
os homens bebem dos seus copos os sonhos que nunca tiveram fora deles. limpam o suor com as costas da mão e abrem mais um botão da camisa, deixando o peito peludo visível. fazem gestos lentos para o dono do café, como quem pede um perdão dos deuses, e olham desorientados para uma menina que ficou até mais tarde na mesa do canto. os homens bebem dos seus copos o a seguir ser amanhã.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, setembro 01, 2005
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