os meus dedos tremem, tremem por dentro do casaco, este casaco grande que trago vestido mesmo que seja agosto e toda a gente, mesmo toda a gente, já só vista pequenas camisas de aspecto ligeiro e saias muito muito curtas, os meus dedos tremem, tremem, não será nervosismo, perguntava-me ontem um tipo no café, eu quase que mastigava o cigarro, respondi num nã-não gaguejado, os meus dedos tremem e eu nem olho para as pessoas se me falam, nã-não, inseguro, porque lhes havia de dizer, está cá dentro, não é preciso mostrar, por dentro deste casaco grande e abafado, mesmo que na televisão prevejam calor e fogo posto, os meus dedos tremem, tremem, por dentro do casaco.
já me disseram que talvez eu tivesse a mania da perseguição, já me disseram que os médicos podiam ter solução para isto, isto, isto sou eu, os meus dedos que tremem, o meu corpo escondido por dentro do casaco, não, não é nervosismo, é chegarem por perto e dizer, os médicos devem ter solução para isto, isto, isto sou eu, eu, os meus dedos que tremem, os meus olhos que se fecham porque pessoas que me falam porque os meus dedos que tremem, eu, dentro deste casaco grande e quente, a minha impressão de estar a saborear todas as coisas erradas, as coisas que não se deviam levar a boca porque, ah, eu aqui, os dedos a tremer, o casaco, a pensar como se ainda fosse um bebé.
os meus dedos tremem, os meus dedos tremem, os meus tremem, quero segurar a vida nas minhas mãos e não consigo, os meus dedos tremem, tudo a cair do meu mundo para o chão, o chão lá de casa desordenado, sujo, sujo, os meus dedos tremem, os meus dedos tremem, dentro do casaco, o casaco grande e quente, o calor, o fogo posto, os meus dedos tremem, tremem, alguém, um médico podia ter solução para isto, isto, isto sou eu quando passo pelo passeio e não consigo olhar, não consigo, isto, na minha boca todos os sabores errados, como se fosse um bebé, sujo, os meus dedos tremem, tremem, tremem, eu, isto, eu.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, agosto 03, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
▼
2005
(461)
-
▼
agosto
(61)
- lição mal estudada
- coisas
- canção seis - e tudo o vento levou
- canção cinco - Entrando no Hit Parade
- canção quatro - onde tudo poderia ter acabado
- canção três - not the smartest one
- canção dois (radio edit)
- canção um
- marinheiro
- aprender a citar
- Um Adeus - possibilidade visual
- Um Adeus - possibilidade falhada
- Um Adeus - possibilidade primeira
- barulho
- janela com vista para o mar
- escuro
- se eu oiço bem
- um
- face
- macieira
- tinha um nome qualquer
- cordão
- silêncio
- calendário
- coisa sem fim
- jogo da moeda
- sempre
- por fim te digo
- bica curta
- depois eu
- Revista 365
- Santa Cruz, Torres Vedras, Portugal (finalmente, f...
- recado no espelho
- egoconcentrado
- palavra (outra vez)
- chat-o-matic
- manhã
- procura
- don't you want me?
- ladaínha em ré menor
- repetição
- 2.
- não me lembro
- it sure looks like the end of a beautiful friendship
- contar as palavras: desespero
- a dúvida
- nomes são substantivos
- domingo
- feira
- escolhe a nossa canção
- modernos e provisórios
- dedos
- desejo
- higiene
- buraco
- MANIFESTO ASSIM!
- treme
- pó
- sorriso no local de trabalho (foto: Manuel Guerra ...
- message beat
- Re: [empty]
-
▼
agosto
(61)
Sem comentários:
Enviar um comentário