Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

terça-feira, agosto 23, 2005

sempre

eu estava sempre a dizer a mesma coisa. toda a roupa igual dentro do guarda-fato. eu estava sempre a dizer, a dizer mesma coisa. e depois calei-me, tal era insuportável aquela forma de tentar encontrar o silêncio no nunca estar calado. o silêncio aparece quando duas pessoas falam o mesmo. há quem lhe chame harmonia. eu chamo-lhe limpo.

o jornal chegava sempre a horas marcadas. eu escolhia os lugares onde me sentar de entre todos os lugares que me incomodavam. não havendo o lugar ideal, que nunca há, procura-se aquele onde dói menos. eu estava sempre a dizer a mesma coisa, e agora silêncio. silêncio, é onde eu quero estar calado. e acima de tudo, nada ouvir.

toda a roupa igual dentro do guarda-fato. era como se assim fosse e pronto. o jornal, dobrava-se e deixava-se em cima da mesa. eu ligava e desligava o telefone da ficha, incontactável para tudo o serviço. era de dia e era de noite, era outra coisa qualquer. eu estava sempre a dizer a mesma coisa, ou não? o silêncio. eu chamo-lhe limpo.

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