Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quinta-feira, agosto 11, 2005

não me lembro

podia dizer, não me lembro. podia dizer, sonhei. podia dizer, repetidamente, as manhãs que nos acordam, os altifalantes. como é que te posso explicar? acabou-se a tinta da caneta que trazia no bolso da camisa. aconteceu isso enquanto eu tentava refazer a métrica de um verso. podia dizer, todos as espécies do mundo. podia dizer, uma morte, num romance. podia dizer, treze minutos depois do amanhecer, ali.

enfim, não me lembro. mas não me lembro mesmo. um problema de memória, pode ser. a mão, sobre o jornal, em cima da mesa. contar os espaços, os passos, que vão desde o amanhecer até ao aqui estar. saber, em formato compatível com a tua ilusão, reconhecer a medida de um abraço, de um queixo caído. podia dizer, afinal traga duas. podia dizer, eu quero a maior. podia dizer, era no fim da tarde, no fim do mundo.

porque, eu quero tanto o que não sei. porque, eu sou assim pequeno como os bichos por entre os dias de chuva. porque, eu não sei escrever coisas bonitas. entretanto, há um eu nesta história. os amanhãs que cantam, na minha vida, são as colunas de som do meu vizinho, de madrugada. sonhei? posso explicar? recuar ou recusar, não serão uma e a mesma coisa? e tu, onde estás a escrever, podes dizer, eu sou eu? quantos mais pontos de interrogação, mais pequenas mentiras. porque, podia dizer, não me lembro.

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