ser de manhã, sempre e em todas as ruas, não é um facto acidental, não é um olhar desviado da corrente, ser de manhã, sempre e em todas as ruas, é acordar para a luz que nos fere os olhos e corrói por dentro, atordoar o querer e o desejo, acreditar só naquilo que nunca nos ofereceram, ser de manhã, sempre, em todas as ruas, e em todo o lugar encontrar sempre aquilo de que se necessita, sem perguntas nem obstáculos.
ser da manhã, de amanhã, correr o campo em busca de girassóis e abraçar em sonhos somente os frutos da nossa imaginação. buscar, sempre e incessantemente, as àrvores da desmama, ter nos animais os mais creditados confidentes e correr, numa bicicleta, todos os cantos de uma aldeia. ser da manhã, de amanhã, não deixar que nos prendam os pulsos em correntes e, recorrentemente, cortas os cordões umbilicais, de modo a morrer de fome e renascer em todas as manhãs, amanhã.
ser de manhã, sempre e em todas as ruas, de amanhã ou de hoje, de aqui e de agora, de longe e de perto, ser grande e ser incerto, muitas vezes incorrecto, não com aquilo que o corpo pede mas com o que as ruas nos dão. ser de manhã, de amanhã, da manhã de outros dias em outras ruas, provavelmente, de outras palavras também, ser de um outro lugar e não ser de ninguém, querer e conquistar, arrumar em nós o sono dos outros, e despertar, despertar sempre e muitas vezes, amanhã, de manhã, da manhã, manhã, manhã.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, agosto 13, 2005
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