Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

segunda-feira, junho 27, 2005

três coisinhas que eu tinha para te dizer

comboios, toda a minha vida foram comboios com hora marcada, uns minutos de espera no café da estação, a inspecção, solene e comedida, dos outros passageiros no cais de embarque, um jornal na mão, o do dia, e a mala cheia de livros, pesadíssima. comboios, toda a minha vida, a pedir com licença à pessoa sentada ao lado para ir à casa de banho, para comprar qualquer coisa no bar.

em viagem, a depender da bondade e da cama de estranhos, a beber às escondidas nos intervalos para café, a subir e a descer escadarias de cidades estranhas, a sentir, pelas pernas abaixo, uma tremideira de não estar no lugar. em viagem, com a mão bem aberta sobre uns lençóis que não são meus, com a cabeça que espera sempre alguém que possa entrar pelo quarto e me surpreender.

ausente, é assim que me sinto em cada pedaço de mim. não estou triste, não é isso, tenho a cabeça cheia de nomes de cidades e vilas que não reconheço, os olhos espantados pela janela do comboio, uma futura engenheira a ler apontamentos ao meu lado, eu a espreitar por cima do ombro. ausente, deixo o computador em cima da mesa de um café e vou andando, trago o cheiro dos lençóis ao longe, o corpo entorpecido da viagem.

1 comentário:

Unknown disse...

Comboios?! Ena Ena! Há muitos no paixaum >+++'>! :D Estás como eu: vidas entrelaçadas pelos comboios e aviões da vida...

Abraço