misturaste as palavras e depois ficou difícil de perceber o que devíamos ou não pegar, um vulto em pé em cima da mesa de cabeceira, a roupa que se ia desfazendo como num sonho e duas bocas que não encontravam aquilo que desejavam. misturaste as palavras e os olhares, o tecto cada vez mais alto mas em queda, as coisas todas ao contrário, simplesmente.
misturaste os teus cabelos com os de outrém, uma mão agarrou-te pelo pescoço e alimentou-se de ti, as palavras que não saíram da tua boca, todas misturadas por dentro, aviões a fazerem viagens para todos os destinos e tu a olhares pela janela enquanto contas dias pelos dedos, os mesmos dedos onde repousam anéis velhos e promessas de fome que ainda não acabou.
misturaste o corpo, a balança e um talher, misturaste a manhã, os vizinhos e a vontade de amar, uma voz arrumada dentro da sala mais pequena lá de casa, o som dos aviões em cima do telhado, um dia um pássaro pousou-te no ombro e tu choraste, a riqueza dos abraços que, ainda assim, ficará sempre por dizer, as palavras que tu tens mas não sabes, presas em ti, misturadas.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, junho 14, 2005
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