Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

segunda-feira, junho 20, 2005

confissão

porque depois sou eu que tenho uma caneta no bolso da camisa e as mãos dentro das calças, a segurá-las por dentro, como quem segura o mundo ou toda a vergonha, apesar de assim, aqui deitado neste chão quente do sol que bate, finge ser alguém com os olhos pelo céu espalhados, um segredo que se conta e uma sala, três folhas de papel afinal, os meus dentes presos nos lábios e roubar-me a mim mesmo este sossego, algures.

porque depois sou eu que digo as coisas, mas fico a pensar, se calhar as pessoas não tão habituadas a pensar nisto e naquilo, eu de peito aberto, sim, sou fraco e frágil e afinal, os dedos de uma mão não chegam para tudo aquilo que eu vi na minha vida, ponho as cartas na mesa, uma folha de jornal, as palavras que eu não peço e não meço ao chegar, posso fazer de conta que não ouvi e posso fazer de conta que estou aqui. tanto mal numa como noutra coisa.

porque depois um afinal talvez um dia, eu podia sair de casa de roupa nova e limpa, mas o calor, o sol ou a simples existência, suando-me a cada passo sem sombra desta cidade, à sombra da soma das dúvidas empilhadas, e se calhar nunca falaste disso a mais ninguém, ou talvez a tua mãe já saiba, que um dia acordaste e estavas a ficar como as velhas e cansadas, casadas, e tu que eras tão nova e tinhas tanto para dizer. e eu sem me fazer perceber, ali.

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