Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sexta-feira, junho 17, 2005

message in a bottle

ama-me estrondosamente ou odeia-me. já não consigo viver mais neste silêncio que me corta por dentro. quando eu era pequeno afagaram-me os cabelos ao ponto de me sufocar. felizmente agora estou cada vez mais velho e mais careca, sento-me numa pedra fria de um jardim onde passam pessoas em volta. algures noutro lado qualquer estás tu, com todas as tuas caras, mãos e pés, a fazer outras tantas coisas que me ignoram. odeia-me.

odeia-me. deixa de me visitar, seja como for. já não consigo viver mais neste silêncio que se me agarra à boca. vou deixar-te ir, nas tuas caras, mãos e braços, para todas as coisas que tiveres a fazer. quando me sentir deifinitivamente sozinho, apago a luz. na adolescência, temos uma ignorante consciência de todos os males e de todos os bens na nossa pele. depois crescemos, ficamos sensatos, fazemos as coisas segundo as regras dos vencedores. no fundo, é sempre tudo, tudo igual.

ama-me estrondosamente. faz barulho, grita, geme, chama-me. não se aguenta este silêncio, este lume brando onde nos querem queimar. eu quero arder ou não quero nada. não aguento, porra. as pessoas passam, olham-me, com certeza que me conhecem, que sabem algo de mim. mas nem uma palavra, não me dirigem nem uma palavra. montámos uma casa com fosfóros e esquecemo-nos da cola, li isto em algum lado. com este silêncio, com este silêncio que me grita surdo, eu não consigo mais viver. apago a luz. odeia-me. ou ama-me estrondosamente.

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