Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, fevereiro 20, 2005

há lodo no cais

aqui é muito de noite, muito mais de noite do que aí, visto que dormes, e os sonhos que temos de noite podem ser de qualquer hora do dia. aqui é muito de noite, cheguei agora da rua, não se ouvia quase barulho nenhum, só uns bebedos que saíam pela porta de um bar e logo se arrumaram, em bancos da frente e de trás, dentro de um carro, provavelmente à procura de um outro sítio aberto para os copos que a sede ainda lhes pede.aqui é de noite, muito de noite. os meus olhos gostam, mas estão cansados.

tenho o teu cheiro na minha roupa e sei que estamos longe. ao mesmo tempo, sei que todas as coisas podem ficar mais perto umas das outras. tenho o teu cheiro na minha roupa e sei que estamos longe. mas os abraços podem vir do brasil, as palavras da china, os olhares da américa, os passos de dança de áfrica. a rua está vazia, exactamente no mesmo lugar onde amanhã, quando eu voltar a sair, estarão as pessoas que ocupam a rua nos domingos de manhã. tenho o teu cheiro na minha roupa, na minha própria roupa. é uma maneira de estar perto, assim ao longe.

ficas calada no meu colo. eu ajeito-me no meu lugar e abraço a tua cabeça contra o meu peito. não olho o relógio, o meu tempo parou. ficas calada no meu colo, eu pouco me esforço para saber o que estás a pensar. não ponho música, falo e falo e falo. tu arrumas-te no meu abraço, sorris devagar quando eu te digo, és gira, gozas comigo quando eu digo, diz ela, eu sorrio, sorrio como contente, aqui longe é já muito noite e não há ninguém na rua. ficas calada no meu colo, e no meu peito tenho agora a forma do teu corpo. os meus olhos cansados.

2 comentários:

Anónimo disse...

aqui é longe...muito longe...
e há muito que nos perdemos...

Anónimo disse...

À contrariar ponteiros e mapas: braços do Brasil!

Um longo e apertado abraço... que enlaçe tuas intensidades...

Amplexamente
Luá