Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, fevereiro 13, 2005

exemplos de cartas

Porque tu, tu não dizes nada, e eu, eu continuo aqui, com um pijama de calças rotas, esticado sobre o sofá da sala, a deixar-me ficar com os olhos húmidos quando passa uma publicidade com dois namorados. Porque tu, tu não dizes nada, e eu, eu ainda acabo por ficar em maior silêncio, não digo que tenha medo de dizer alguma coisa, mas, no fundo, a pensar se há realmente alguma coisa que deva ser dita.

Porque tu, tu não dizes nada, e eu, eu continuo aqui, com as mãos abertas sobre o parapeito frio da janela, o nariz encostado ao vidro, a respiração controlada pelo embaciar, como se a rua ou os meus olhos embaciassem também, neste contínuo ficar sem dizer nada. Porque tu, tu não dizes nada, e eu, eu não tenho que saber sempre o que fazer, não tenho que saber o que dizer, não tenho que ser forte sequer, porque, no fundo, eu não sei, eu não sou nada disso.

Porque tu, tu não dizes nada, e eu, eu continuo aqui, a procurar roupa dentro do roupeiro, a imaginar o dia em que me vou constipar, ou por ter roupa a mais vestida, ou por ter roupa a menos, sempre um pouco errado, apesar de tudo, apesar de mim. Porque tu, tu não dizes nada, e eu, eu não gosto de me estar sempre a meter na tua vida, a aparecer nos teus dias, a perguntar-te se haverá alguma coisa que tu queiras dizer, e acabo por não me meter, não aparecer, não perguntar nada, nada.

2 comentários:

Miriam Luz disse...

Não digas. Se houver alguma coisa a dizer, fica dita no silêncio... é mais bonito. =)

Um beijo Luís...*

Litostive
http://litostive.blogspot.com

Anónimo disse...

Permanência... manência... nência... cia.. ia...
ia?

Passividade ativa na insistência da existência que faz solistência...

Enlouqueçe, sabia?
Sabia.