os livros de poesia estão nas prateleiras das livrarias, como os bolos de anos repousam nos mostradores das pastelarias. as pessoas, crianças maravilhadas, entram e olham. dá vontade de colocar o dedo, provar o creme. mas a montra, o vidro, a boa educação, não lhes permite a aventura. dá vontade provar um verso, um verso sempre que se entra numa livraria. mas não.
entra, olha, sente. a imensa vontade dos dedos no creme. não sei bem se é melhor provar o doce, o açucar e as natas, se a sensação de enterrar suavemente o dedo numa nuvem, conseguindo pegar num pedaço dela. nos poemas, a nossa vontade é tirar uma palavra, uma expressão, um verso. talvez por sempre se olhar o mundo como se olha uma pastelaria, as pessoas não agarram a poesia.
sentemo-nos então na mesa da pastelaria, mandemos vir um pastel de nata, uma torta. sentemo-nos num qualquer canto da livraria, enterremos os olhos nos romances. enchem-nos de palavras fáceis, frases sem muito que dizer. o creme doce do bolo, fica lá, intacto. por detrás da montra, por detrás dos sortudos que fazem anos, por detrás dos bonés dos pasteleiros. ficam lá. versos com tanto para dizer.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, fevereiro 27, 2005
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1 comentário:
os versos doces ou os doces poéticos. ainda bem que há quem o pense. *
S.C.
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