Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, fevereiro 06, 2005

práticas terapêuticas

eu choro baixinho debaixo dos lençóis na minha cama, demasiado grande para um homem só. choro baixinho enquanto oiço os barulhos dos vizinhos a acordar pelo prédio, os barulhos da manhã, passos arrastados pelo chão, gemidos de crianças, músicas que se vão levantando do silêncio destes dias cinzentos. eu choro baixinho, ajeito-me na cama fria, olho o relógio com o desespero dos dias inúteis.

estava sentado num canto escuro do bar, o sorriso que não saía, a cabeça a doer-me, passado o efeito dos comprimidos. na mão um copo de má cerveja a sentir a turbulência da música sobre as matérias imóveis. estava sentado, nem triste nem contente, apenas igual a mim. vozes chatas à minha volta, a tentar fazer disparar a alegria plástica, custasse o que custasse. estava sentado num canto escuro, incapaz de deixar de ser igual a mim próprio.

eu não estou triste e também não estou contente. não me sinto completo mas também não me sinto carente. rodeio-me na paranóia da auto-suficiência, manobro-me para fugir ao medo que tenho de mim. eu não estou aqui, mas também não consigo sair daqui. não é fácil resistir ao peso que está sobre as minhas costas, eu em todos os momentos da minha própria vida. na cama, num canto escuro de um bar, em mim, está sempre frio. e não é bonito.

3 comentários:

Anónimo disse...

assim não vale, amigo. quero-te ver animado: vá, força, que ninguém sabe fazer saltos mortais sem adjectivos como tu. bj, carmen de cádiz

Anónimo disse...

Ah esse conhecido estar não estando...
Latejam-me seus escritos... escancaram a dor que o riso não consegue esconder...
O vácuo é ensurdecedor, não?

Contactarei-te...

Com sosláios
Luá

Miriam Luz disse...

És tão... especial.
Tenho pena de te deixar partir... todos os dias, cada dia.

Desculpa...

Beijo.