sento-me num pequeno banco, coberto pela sombra do telheiro onde resistem flores ao vento que tomou toda a aldeia. sento-me num pequeno banco, da parte da tarde deste dia de cores cinzentas onde as almas parecem andar atarantadas na busca de um qualquer brilho. espero. sei, cá de dentro, que alguém se aproxima para que, com as suas mãos na minha pele, me faça descobrir mais um reconhecimento sobre as coisas que nos edificam. vento.
sento-me num pequeno banco. inspiro e olho o que me rodeia. o telheiro fica virado a oeste, num recanto da aldeia. abaixo, o vale, um ribeiro, uma estrada, outras pequenas casas de aldeias vizinhas, de casais um tanto isolados. em tudo, o vento. a brisa beija-me a face mal barbeada, sopra-me ao ouvido uma cantiga que vem dos lados longínquos do tempo. as flores, que resistem, exalam cheiros de danças, mais etéreas do que movimentadas. espero, aguardo. vento.
sento-me num pequeno banco, mãos repousadas sobre os joelhos, costas entregues à parede da casa, olhos semi-cerrados na sombra, o telheiro. ao longe, qualquer coisa de azul. imagino que até certo ponto seja mar, para além desse ponto seja céu. ao longe, não consigo descortinar o local exacto onde começam e acabam as coisas. espero a mão reveladora e doce do reconhecimento. inspiro e expiro. daqui, de onde se podem sentir todas as coisas. o meu corpo. o vento.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, fevereiro 22, 2005
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