era a mania dos calções, mesmo quando chovia a potes e os homens compravam casacos compridos nas lojas que eram todas de senhores bem postos e respeitados na vila. era a mania dos calções, rapaz que é rapaz, usa calções, vai à escola de calções, aprendiz de mercearia de calções. os sapatos faziam todos toc-toc-toc nas calçadas e os mariolas fumavam barbas de milho à porta dos cafés. era.
entretanto começou a usar-se, cada vez mais, um certo respeito pelas formas de outrém e, ainda sempre mais, umas quantas roupas de cores diferentes, costumes desalinhados com a respeitabilidade da vila, um ou outro tipo que, de cabelo desgrenhado, não usava a brilhantina exigida. olhavam-no por cima do ombro e nem toda a gente lhe dava os bons dias. mas era sempre o filho de ou o neto de e, por isso, aceite.entretanto.
mas agora já ninguém se conhece, a verdade é esta. a polícia já deixou de perguntar "és filho de quem" porque, assim como assim, já ninguém é mesmo filho de uma pessoa qualquer. começou-se por se ser da rua e agora é-se sempre de um outro conceito, mais ou menos reconhecível, salvo extremas ocasiões. agora já se anda na rua sem se ligar aos olhos em cima dos ombros. mas.
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quinta-feira, outubro 27, 2005
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