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sábado, outubro 29, 2005

espreitar pela vidraça - prólogo

era qualquer coisa como uma rua escura onde eu passava regularmente - oito senhores de capas compridas a entrar e a sair de uma porta grande, ladeada de uma vidraça onde, nunca por muito tempo, me deixavam parar e espreitar. era qualquer coisa como uma cidade um tanto desconhecida - com certeza grande - com fronteiras de lisboa até salamanca até ao porto até a nova iorque. era, ainda, qualquer coisa como um clube de senhores onde só se entrava fumando cachimbo.

era isso e a minha falta de jeito para contar histórias - por um lado, gaguejo sempre na narrativa, por outro, sou demasiado míope para aprofundar uma personagem. portanto, passava eu na rua escura, de jornal na mão, maço de cigarros contados no bolso, umas moedas para uma caneca de cerveja. imaginei que alguém me chamava do lado de dentro da porta e que, por uma vez, poderia entrar no clube, poderia ser recebido por aquele porteiro saído dos filmes de cinema. --muda de parágrafo ou muda de vida--

era isso e a minha escrita aos altos e baixos - calçada por calcetar - há quem diga que é dos carros que passam mais pesados do que antigamente. mas, ao mesmo tempo, a minha imaginação dormente entre os maços de jornais, um cigarro debaixo do braço, uma caneca de cerveja num clube onde não há canecas nem cerveja, um barman saído dos filmes, tudo e mais alguma coisa assim, aqui, onde eu passo regularmente, a espreitar pela vidraça.

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