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sexta-feira, outubro 28, 2005

cinema

há um tempo em que somos fotografias de filmes de cinema ______ deixamos um certo espaço entre as palavras e os sons e paramos a história num olhar, num gesto - a mulher mais bonita, a explosão mais aterradora. sentados no sofá da sala entre quatro paredes quantas janelas de um lado e de outro - uma certa que luz que entra, uma certa luz que cega - fotografias de filmes de cinema, alguma coisa poderia começar a partir daí.

em primeiro lugar, os actores conhecidos - os grandes filmes - embora exista, nisso, uma certa perversidade de movimentos, porque é que somos levados a fixar uma imagem tão repetida nas mentes de toda a gente, tão movimentada por isso mesmo. os grandes filmes - essas histórias mal contadas dos espíritos que vagueiam na cabeça de homens que não tomam pequeno-almoço. havia, entretanto, qualquer coisa para dizer sobre os actores mas, sinceramente, já não me lembro bem do que se trata.

há um tempo em que somos fotografias de filmes de cinema ___________________________ um enorme espaço em branco onde podes assinar o teu nome ou deitar-te a fingir que também irás caber na fotografia que alguém colará na parede do quarto. são essas histórias de vidas relativamente pequenas que fazem o maior sucesso. uma vida que dura entre noventa e cinto e cinquenta minutos e pode ser consumida ao mesmo tempo que se comem pipocas. depois disso, uma entrevista e duas críticas mais ou menos laterais sobre o teu trabalho. um tem a sorte de estar no clube certo, outro alegra-se por ficar no clube errado. em suma, nenhum clube é bom para os que ficam de fora.

há também um tempo em que nos levamos a resumir tudo em frases pequenas - aquela rua - aquela estrada. há uma maneira de dizer amo-te que é muito melhor compreendida por toda a gente i love you em grande, na tela - i love you - nada a ver com uma declaração de amor, simplesmente uma maneira de ser percebido, mesmo que mal percebido, por mais olhos mastigantes. outra coisa completamente diferente é não dizer nada : o silêncio do teu olhar quando a camera te encontra a ensaiar. provavelmente é aí que, mais do que em qualquer outro lugar, os filmes de cinema se transformam em fotografias.

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