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sábado, outubro 15, 2005

"o homem sem qualidades"

tive uma namorada que me lia excertos de "o homem sem qualidades" enquanto passeávamos por Lisboa. posso fazer um esforço para me tentar lembrar de algumas dessas páginas mas, nessa altura, eu tentava decifrar a abragência do mundo em livros de psicologia. passeávamos pelos jardins da gulbenkian tendo como banda sonora musil, jorge de sena e os pombos. eventualmente, isto poderia tratar-se de uma cena de um filme.

entretanto, a mesma namorada puxou-me a ler "a perna esquerda de paris", que eu, insistentemente, lia páris, imaginando uma qualquer história de antiguidade clássica, nada que eu estranhasse na obra de gonçalo m. tavares que conhecia de outros cadernos mas, mesmo assim, insuficientemente atraente aos meus olhos. mais pela ideia das tabelas literárias do que pela transformação do jovem grego em cidade-luz, lá acabei por comprar o livro.

e foi mesmo dentro das tabelas que redescobri, ou descobri, o prazer das palavras de musil. sim, o mesmo "homem sem qualidades" dos passeios pela gulbenkian, agora ali vivo e a tocar-me no ombro, por dentro e por fora. e, no dia seguinte, o primeiro passo de uma larga caminhada: ir até à biblioteca municipal procurar por um volume que seja de tal obra. nada, o vazio. agora procuro-o pela internet e disponho-me a ir onde for para o encontrar. eventualmente, isto poderia tratar-se de uma cena de um romance.

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