sempre os ventos adesivos, que se colam nos cabelos penteados, nas manhãs de primaveras indecisas, no espaço dos meus dedos entrelaçados. sempre os ventos adesivos, quando na rua uma cara me olha de soslaio, um pé ante pé mal medido, a calçada portuguesa, mas suja. sempre os ventos adesivos, quando se compra um jornal por oitenta cêntimos, quando se paga o café com uma nota grande, quando se diz bom dia a uma vizinha velhota, sempre.
sempre os ventos adesivos, os cabelos a pararem no ar como nas fotografias, os nossos olhos a deixar cair lágrimas que no chão, marcas de uma passagem mais que de um passeio. sempre os ventos adesivos, quando o carro pára junto à falésia, todo aquele mar até ao fundo do cenário, homens pequeninos lá em baixo, na areia, as nossas mãos que se encontram. sempre os ventos adesivos, beijos como tatuagens, cabelos que se trocam pelos ombros, um do outro.
sempre os ventos adesivos, a empurrar os nossos corpos pela beira do mar, a roubar-nos as palavras que nos saem da boca, e lá vai um adoro-te a voar pela praia fora. sempre os ventos adesivos, nas roupas que se deslocam junto à pele, no livro que volta a casa com areia dentro, dos sapatos que, descalços, nos apertam. sempre os ventos adesivos, no meu braço por cima dos teus ombros, do encolheres-te porque perto de mim é abrigado, e depois me envolveres com os teus olhos, os teus olhos que me amam fixamente.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, abril 09, 2005
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3 comentários:
Belo pedaço de escrita...
sweet dreams die in heaven...
Achei-te por acaso e fiquei por aqui a ler-te. Parabéns!
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