seria sempre uma possibilidade, nós os dois sentados no sofá a ver um filme, o cão a deixar-se adormecer a um canto da sala, e o mundo acabar, ali, solene e distraído, como uma brincadeira de namorados. uma possibilidade, sim, como outra qualquer, como tocarem à porta, como ao telefone, como faltar a luz. acabar o mundo, nós os dois sentados no sofá, antes de terminar o filme. as coisas grandes não dão avisos.
seria sempre uma possibilidade, encontrar alguém que mexe connosco nas ondas perdidas da internet. no final de um dia cinzento, com o trabalho todo para fazer amanhã, as pernas doridas e os olhos cansados. uma possibilidade, pois, como outra qualquer, andar na rua e cair nos braços de um desconhecido, achar tanta graça aquela amiga fofinha de uma nossa prima distante. encontrar alguém, por entre o cansaço, no meio da mediatização. nem todos os espectáculos têm fogo de artifício.
seria sempre uma possibilidade, vestir agora qualquer coisa a correr, sair desprotegido para a chuva e apanhar o comboio. afinal é segunda-feira de manhã, todos os recados que temos para fazer podem ser feitos numa outra segunda-feira. uma possibilidade, sim, apanhar o comboio, comprar um bilhete para longe, levar só um livro no bolso e ficar a olhar pela janela com um dedo nos lábios. são sempre as coisas inadiáveis que ficam por fazer.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, abril 04, 2005
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3 comentários:
vejo-me no que descreves...são sensações partilhadas penso.É familiar ler-te e sabe bem...faz sorrisos,uns abertos,outros serios ou apenas pensativos.***
O universo é sempre uma possibilidade.
:-)
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