eu escrevo histórias. foi isso que eu disse, assim seco e directo, como muitas vezes me faço, seco e directo, a fugir de dentro, para não ter que ver como é o meu corpo por dentro quando digo alguma coisa, a boca a movimentar-se a mando do cérebro e todas as outras funções num vómito que se estende e se estala por mim inteiro. eu escrevo histórias. quando estou cansado e rebentado do dia, escrevo. quando não fazia nada o dia inteiro, não escrevia.
eu escrevo histórias. sim, mesmo depois de me puxarem os cabelos e os dedos em reuniões feitas em escritórios. sim, mesmo depois de me fazerem perguntas sobre coisas que eu nem sequer imagino. sim, mesmo sendo segunda-feira, mesmo sendo o dia a seguir a um fim-de-semana em que o descanso me cansa sempre mais que o cansaço habitual. sim, eu escrevo histórias. como um velho jogador de futebol, no final da sua carreira, já sem ser capaz de correr, mas ainda a fazer as mais belas assistências para golo.
eu escrevo histórias. no final da tarde em que os meus olhos já se custam a abrir. onde uma dor me povoa a cabeça de ponta a ponta. onde ainda vou ter que sair de casa, encontrar pessoas, ter opiniões, fazer coisas. escrevo, sim, histórias. disse isso. disse mesmo isso. assim, seco e directo. como sempre sou quando não quero que me façam perguntas. como sempre sou quando não gosto das pessoas com quem estou a falar. como sempre sou com as pessoas de quem gosto mas não quero que me falem. seco e directo. uma história.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, abril 11, 2005
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1 comentário:
e eu gosto de ler as tuas historias :)
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