ponho-me a mexer em papéis velhos, de quando eu escrevia poemas de amor e chorava noites inteiras. ponho-me a mexer em papéis velhos, olho-os um pouco como um estranho, um pouco como um irmão mais velho. na verdade, não tenho grande vontade de lá voltar, aquele tempo. sei bem pelo que passei, sei bem o que senti. hoje compreendo tudo isso. mexo nos papéis mas não me apetece ler. a mim não me dizem nada.
ponho-me a mexer em papéis velhos e compreendo porque é que várias pessoas na história da literatura, e da vida pessoal de cada um, queimaram o que tinham escrito. de algum modo, é um pedaço daquilo que fui que está ali, ali dentro de uma mala, a um canto da sala. e se eu não tenho vontade de lá voltar, há quem tenha medo de que o passado exista. por isso queimam os papéis. eu deixo-os ficar, para depois.
ponho-me a mexer em papéis velhos e deixo de pensar em mim agora e em mim antes. penso nos outros, nos que me podem ler, agora antes e depois, e encontrar-me em diferentes maneiras, em diferentes tempos, em diferentes eus. não me posso impedir de aprender, de reconhecer. não me posso impedir de saber o que dizer quando tantas coisas já foram ditas. eu chorava noites inteiras. os papéis velhos.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sexta-feira, abril 15, 2005
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1 comentário:
Olá Luis! Primeiramente quero agradecer o comentário no "Mundo Aparte" e resalto em dizer que o seu blog é muito bom! Parabéns! Vou aparecer mais vezes aqui.
Sobre o post, quem nunca escreveu (para aqueles que gostam de escrever) algum texto de que não quer recordar-se? Eu tenho textos antigos que desejaria que jamais fossem lidos. As pessoas mudam, evoluem e com elas evoluiem as própria opiniões e sentimentos.
Abraço! Até mais!
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