ando pela rua com ar distinto dos empresários, com os olhos malandros dos artistas, com o jeito desfeito dos gordos, ando pela rua como uma mistura de várias coisas que me sopram ao ouvido que eu sou, de manhã, com pastas de documentos debaixo do braço, de tarde, com livros que ficaram por ler nas noites passadas, ando pela rua, assim, sem que ninguém me compreenda realmente.
ando pela rua como eu sou e é nesses dias que estou mais confiante. não sinto o peso do céu sobre os ombros nem que me queima os pés o inferno. ando pela rua e entro nas repartições, de peito feito e casaco abotoado. as pessoas tratam-me com uma ligeira reverência de quem sabe ao que vai, e o meu jeito négligé ajuda a retirar qualquer tipo de importância ao que está a ser feito. como se eu tivesse muito mais que fazer.
ando pela rua com o ar distinto dos empresários, deve ser do casaco, com os olhos malandros dos artistas, deve ser das calças de ganga rotas, com o jeito desfeito dos gordos, deve ser dos ténis, ando pela rua sem um jeito definido e penso em cowboys e detectives, imagino cigarros e o fumo de um tipo que passa faz-me tossir, falo às pessoas, como se nada fosse verdadeiramente importante, como se nada fosse realmente decisivo, para o lugar onde eu levo a minha vida.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, abril 05, 2005
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1 comentário:
:)...porquê?
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