faz um herbário no meu coração, enquanto eu falo baixinho deitado no chão, esperando que a noite caia mais calma do que o dia-rio que não se entravou na corrente. faz um herbário, com os teus dedos macios e os teus sonhos de gatos, onde nunca antes alguém, nem nunca antes alguma coisa. como se pode ter um coração tão seco, perguntas, e eu sei que tu vês a lava que salta lá de dentro, com as tuas lentes que te fazem ver mais dentro de mim, mais dentro do que aquilo que alguma vez alguém conseguiu ver. faz um herbário e deita a tua cabeça no meu colo.
deixa a tua porta aberta esta noite, apetece-me entrar. não como se tivesse algo para conquistar, apetece-me fazer parte, ser como o ar que se respira no teu peito, ser como as ideias que confundem na tua cabeça. depois, com as minhas mãos, cubro-te os pés gelados e faço ron-ron, para disfarçar. deixa a tua porta aberta, não tenhas medo de fechar os olhos, o teu ninho está feito e o teu anjo da guarda segura-te mesmo quando tu não vês. deita-te com o descanso de quem acorda a sorrir. deixa a tua porta aberta.
não deixes de fazer as tuas malas para a felicidade. eu sou uma das estações, nunca a final, talvez aquela onde se pode ficar sossegado a dormir. não digo que não haja vento nem frio. não digo que não haja chatices. e sim, vais continuar-te a zangar com as coisas mal feitas que são feitas aqui, como no país. não deixes de fazer as tuas malas, traz os teus sacos também, os teus livros, os teus desenhos, as tuas palavras difíceis que eu não entendo e procuro, fechado, no dicionário. e podes vir sem bilhete. o teu anjo da guarda tapa os olhos dos revisores e podes voar, como se fosses invisível, como se isso fosse possível. não deixes de fazer as tuas malas para a felicidade.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, abril 29, 2004
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário