ele apareceu com o jornal na mão, o olhar desvairado, a boca espumante, meio a cambalear. o que queriam que eu lhe fizesse? fiquei assustado, foi isso. e depois, a primeira coisa que me veio à cabeça foi perguntar, más notícias, hein? o gajo abriu-me aqueles olhos azuis do tamanho de dois galeões e atirou-se a mim como a armada espanhola. restava-me fugir ou morrer. e eu nunca tive muito jeito para essas coisas de se ser mártir ou revolucionário.
a mulher dele, a própria mulher, na primeira página do 24 horas, o meu marido bate-me. depois de o ver a correr assim atrás de mim, acredito nela. o gajo estava doente, e a cada pessoa que comentava o assunto, ele dava mais uma razão para se ter pena da pobre senhora. então você anda a bater na sua esposa, meu cabrão?, disse um gajo novo que passava de mota. e o galeão espanhol desfez-se em lágrimas.
que não passava de uma aposta estúpida. ele, benfiquista, sempre a gozar com a mulher, portista. há mais de trinta anos, esta coisa. e ele prometeu-lhe que se o benfica ganhasse dez campeonatos seguidos ia às putas, só para a chatear. a promessa dela, que se o benfica ficasse dez anos sem ganhar o campeonato (coisa impensável), o haveria de o tramar. antes me pusesse os cornos, antes os cornos, que vergonha. mandei vir mais umas imperiais. e o galeão espanhol foi ao fundo, num mar amarelo.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, abril 19, 2004
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