depois de todos terem fumado o seu cigarro, sentámo-nos em volta da mesa, e eu pedi desculpa por ter tudo tão desarrumado. esta casa não é minha, é só a minha maneira de vos expressar o meu amor pela vida. começam a gravar o meu monólogo engasgado, tipo "eu sei que isto vos parece normal, a mim, não". enquanto falo penso que me vou perder no momento seguinte da frase. como se as frases tivessem momentos. penso linguisticamente. que azar o meu.
nós somos giros, não somos. quase a imagem invertida um do outro, como se andássemos de pernas para o ar. ele a fingir que é novo aqui e que é preciso amá-lo, como se ama de coração alguém que nunca se viu antes. eu a fazer-me diplomático e a olhar para o tampo da mesa na hora das fotografias. gosto de aparecer como se não estivesse ali. tipo homem invisível, estão a ver. calado, penso em revoluções armadas.
e depois sempre aquela mania de fazer perguntas, sei lá, vocês são assim desde pequeninas? puxam-me pela língua, é o que é, eu finjo-me de parvo, e conto tudo, como se conta à mãmã depois de se fazer uma asneira quando se é pequeno. e pronto, lá disse mal de alguém, como se não fosse comigo, como se não aparecesse a minha fotografia no jornal de amanhã. no final toda a gente se ri. menos eu. como se não tivesse gracinha nenhuma.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sexta-feira, abril 23, 2004
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