e de repente esqueço-me de tudo o quanto foi feito por todas aquelas pessoas que aqui estiveram antes de mim e desato a gritar o meu desejo de originalidade, como se fosse possível ser original quando se é jovem e se tem o mundo inteiro por descobrir. sim, eu sei, já é meu hábito vestir-me de heresias. mas, no final das contas, sou sempre eu quem tem que puxar pela carteira para pagar as contas. brinco com as moedas, entre a mão direita e a esquerda, a pensar no café de amanhã. deixa estar.
e de repente peço para me servirem mais duas garrafas de cerveja e para trazerem um prato com salgadinhos, que os salgados sejam distribuídos pelo balcão!, há-de haver festa, e fantasia, e sorrisos e gritos e cantares, cantadas, como diziam os brasileiros, e eu fico sentado mesmo ao fundo do salão, quietinho, com a garrafa na mão, a aquecer, e o olhos regalados com o espectáculo, essa imensa vontade de se ser livre quando não se o é, e toda aquela bonomia de se saber que já não há nada a fazer, quando se atingiu a felicidade.
e de repente, recebo uma carta tua e desato a ler coisas de que já nem me lembrava, assim como quem se veste todo fino para a ópera e encontra um amigo de infância à entrada, assim como se desfaz um cenário se uma actriz escorrega nos saltos altos que não foram experimentados, leio leio leio e descubro, como é que eu me poderia ter esquecido, de que tu também fazes anos, e festejas o natal, e curtes o ano novo, como se eu agora fosse único no mundo, como se eu agora quisesse voltar a ser original.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, abril 17, 2004
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