Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

domingo, fevereiro 29, 2004

rede

quando há um mundo onde se pode ficar a pensar em americano quando se liga a televisão, eu gosto de poder encontrar um canto onde esteja frio para puxar o casaco para o pescoço e olhar o escuro. sento-me no banco de trás do carro e não consigo esticar as pernas. existem barulhos estranhos dentro da minha cabeça, naqueles lugares onde já estiveste milhares de vezes mas nunca, nunca, pensaste olhar com olhos de ver. olhos de filósofo, dizia a minha tia. pois, acenava eu com a cabeça, enfadado. agora já sei.

arrumo as coisas todas que tenho no meu quarto mas tudo parece sempre tão desarrumado. gosto de ficar sentado em cadeiras de plástico e que me apareçam à frente pessoas que não vejo há muitos anos (mas só quando estou sozinho e me apetece distrair). depois, sorrio. depois, fico a ouvir. ou talvez não oiça nada, talvez eu fique só a imaginar, e só consiga ver aquilo que imagino e construo dentro de mim e nada disso tenha seja o que fôr a ver com a realidade que me apareceu inesperadamente. nestes dias, gostava de pensar em americano. mas isso eu ainda não sei como se faz.

na sala há alguém com vontade de rebolar sobre a mesa, mas há também outro alguém que não quer que nada disso aconteça. no écran vão passando imagens de canais diferentes, coisas que não estão nada relacionadas umas com as outras. na rua, alguém grita, mas nada disso parece ser muito importante. o que nos marca a sério é poder ter os sapatos sujos de lama quando se acorda de manhã. não que eu tenha especial gosto em caminhar pelo meio das poças, é só uma forma de poder crescer com alguém. em cima da mesa havia uma rodela de pão, cortada circularmente. na rádio, uma conversa de treta, estúpida. eu sei que não gosto de vocês, porque raio volto sempre a experimentar? querer ser tudo aquilo que já se sabe que se é.

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